Minha "necesárea"

terça-feira, 19 de junho de 2007

Tava pensando aqui com meus botões... esse deve ser o enézimo blog que crio, mas em todos os anteriores, eu relatava com textos recheados de palavrões e gírias, o quanto eu tinha enchido a cara e me divertido no fim de semana, dentre outros assuntos tipicamente adolescentes... Aí de repente, eu paro pra pensar mais ainda, e percebo, pela primeira vez, que amadureci 10 anos em 9 meses, que tudo aquilo só faz parte de um passado bem distante que eu me pergunto se vou ter coragem de contar pra minha filha, para não abrir precedentes(risos). Quem me conheceu há pelo menos 4 anos atrás, sabe bem do que estou falando, me preocupava em sair e me divertir, em pintar o cabelo de roxo, em ouvir Ramones, em ter um visual agressivo, em ver o mundo girando, porque isso era tão divertido.... Bom, estou no dia 23 de Outubro de 2006, nada disso que citei acima faz mais parte da minha vida, aliás, falando em vida, nesse dia, acordei sem fazer a menor idéia de que esse seria o melhor e mais importante dia de 22 anos de existência! Eu já estava desencanada, não sentia nenhuma dor, a GO me dizia repetidas vezes que eu não tinha nenhum milímetro de dilatação.... eu já havia me conformado que a Isabella seria o primeiro bebê a nascer de 12 meses! Como já tinha passado da DPP, tinha um ultrassom marcado para depois do almoço para saber a quantas andava a minha bebê que tinha preguiça de nascer. Pela oitava e derradeira vez, lá estava eu, esperando para fazer mais um ultrassom. Já tinha me familiarizado com as imagens que já não eram mais abstratas para mim, já conseguia destinguir pé de cabeça! Tudo ia muito bem, até que a radiologista me diz, com a maior cara de paisagem: "Você vai ter que fazer uma cesárea ainda hoje, o seu líquido amniótico está acabando", hã? Fui correndo para minha GO, furei fila, entrei logo na sala dela, louca de vontade de ouvir que eu poderia sim esperar por um parto normal - desde pequena, tenho HORROR a parto cesáreo, ouvia histórias terríveis a respeito das dores da recuperação, e não era nada animador pensar que 7 camadas da minha pobre barriguinha iriam ser cortadas! Assim que abriu o ultrassom, minha GO disse: "O nível de líquido amniótico está muito baixo, sua bebê pode ficar sem oxigênio, temos que fazer uma cesárea ainda hoje!", antes que eu esboçasse alguma reação, ela complementou: "Vou desmarcar minha última cliente, se interne na Santa Casa às 17 horas que às 19 estarei lá para fazer a cirurgia!". A única coisa que consegui falar foi: "Não pode ser amanhã?", na esperança da bolsa romper de madrugada, e ter um parto normal. A resposta foi: "Não, não podemos esperar até amanhã, até lá ela pode morrer sem oxigênio!". Saí do consultório desolada, arrasada e triste, pois tinha me preparado 9 meses para ter um parto normal, a idéia de fazer uma cesárea era inconcebível, era como se o ciclo da gravidez não tivesse terminado da forma correta, odiava a idéia de que minha filha seria arrancada de mim, ao invés de sair por livre e espontânea vontade, odiava a idéia de ter minha barriga cortada... cheguei em casa e me debulhei em lágrimas, chorei como poucas vezes, não acreditava que teria que me submeter àquela cirurgia horrível! O clima na família era de festa, exceto para mim. Assim como dizem sobre as drogas "o próprio nome já diz", vale o mesmo para o parto normal, o nome diz por si só, que é a forma normal de vir ao mundo, a cesárea era uma aberração que infelizmente é praticada descessáriamente pelos médicos do Brasil, por puro comodismo. Que médico quer ficar esperando horas, ou até dias, a sua paciente se contorcer de dores até o momento em que atinge 10 cm de dilatação para fazer o parto? Que médico vai ser xiita de parto normal, se paga-se melhor para fazer uma cesárea? Não quero generalizar, ainda têm médicos sensatos por aí, mas devo confessar que minha GO tentou me induziar a fazer uma cesárea durante os 9 meses, argumentava que ela não fazia parto normal por ene motivos, mas eu sempre relutei, e não mudei de GO porque ela me acompanhava desde que tinha 12 anos, me sentia mais segura com ela! Entrei no MSN para avisar aos meus amigos que a Isabella iria nascer, chorei mais um pouco, fui tomar banho, me arrumar, arrumar as malas, chorar, me lamentar e, enfim, ir para o hospital. A essa altura, tinha que me conformar com a cesárea, até porque soava um tanto quanto egoísta querer esperar um PN, sendo que minha filha corria risco de morte. Então encarei os fatos, e cheguei ao hospital... lá descobri que aquelas cesáreas que aparecem nas novelas, são pura ficção, na vida real, o negócio é frio e automático. Cheguei na sala de pré-parto, aquela mesma onde as mulheres se contorcem de dor para atingir os 10cm de dilatação, do meu lado, tinha uma menina, jovem, deveria ter a minha idade, que estava se contorcendo de dor desde as 10 da manhã (a essa altura, já passava das 6 da tarde), eu me sentia dividida entre me sentir aliviada de não estar morrendo de dor, ou de sentir inveja daquela dor que eu sequer tinha sentido. Depois chegou outra mulher, mais velha, com ar tranquilo, falando que havia marcado uma cesárea, pois tinha horror a parto normal (é, tem louca pra tudo!). Tudo ia muito bem, muito tranquilo, até entrar uma enfermeira "porra louca" na sala, ela olhou para a menina que se contorcia de dor, e dizia "Tá achando ruim, então porque fez? Quer parto normal? Agora aguenta!", mais uma vez, mais outra pessoa levantando a bandeira da cesárea! De repente, a maluca vem em minha direção, pergunta se eu tinha me depilado, e por um segundo pensei em responder: "Você acha que consigo enxergar alguma coisa com essa barriga gigante?", mas me contive em responder apenas "não". Com um ar de "ai que saco", ela levantou minha camisola, olhou a situação, se virou, foi não sei onde, e voltou com uma gilete enorme da mão, levantou minha camisola e... calma, ainda vem coisa pior pela frente! Logo depois, vem a maluca, falando alto e cantando, com uma sonda na mão e, sem hesitar, mandou eu abrir as pernas e disse que ia colocar a sonda. Apenas imaginem a dor que foi sentir uma mangueirinha de borracha, entrando no canal urinário! Bom, quando eu pensei que já tinha passado por tudo alí, me vem a louca falando em lavagem intestinal... vou parar por aqui, pois todo mundo sabe como que é que se faz isso! Depois de tanto constrangimento, entra minha mãe e meu namorado na sala, com um ar de felicidade, batendo fotos e esperando que eu estivesse com a cara mais feliz do mundo. Pior que isso, só escutar meu namorado dizer: "Que bom que vai ser uma cesárea!", é muito bom ser homem... só falou isso porque jamais na vida iria passar pelo o que eu estava passando! Eram quase 8 da noite quando chegou minha GO, com a pressa que já era de praxe, me passou pra uma maca, colocou aquela roupa de médico que vai para uma cirurgia, e me empurrou corredor a dentro, rumo à sala de cirurgia. Bom, a sala de cirurgia não era nada daquela coisa bem equipada, bem iluminada e bonita que aparece na TV (e olha que meu parto estava sendo particular). Deito na mesa, jogam aquele lençol bem em frente ao meu rosto e vem a enfermeira, com cara de boa menina, com uma seringa na mão, me dizendo que não iria doer nada, e enfiou uma maguerinha dentro da veia da minha mão esquerda, poucas vezes na vida tinha sentido uma dor daquelas! Depois vem outra enfermeira, com dois pedaços de madeira e cordas, coloca um pedaço de madeira embaixo de cada braço meu e me amarra, parecia que eu estava na cruz! O anestesista chegou e, a primeira coisa que perguntei foi se a anestesia doía mais que aquela mangueirinha que tinham enfiado na minha mão, quando ele disse que não, respireia aliviada! Logo ele me mandou sentar para aplicar a raqui, outro rapaz foi incumbido da difícil tarefa de me segurar pelo pescoço para que eu não me mexesse. A essa altura, antes de sentir uma agulha entrar na minha espinha, tive que escutar o anestesista falar: "Você gosta de Ramones?", a vontade que eu tinha era de dizer "Não, odeio... tenho o hábito de tatuar nomes de bandas que eu detesto", mas me contive no "Sim, gosto!". A anestesia nem doeu muito, deitei e logo não sentia mais nada do pescoço pra baixo. Na verdade, me sentia deitada na mesa de um açougue, era um tal de me mexer pra lá e pra cá, de pegar ferramentas... tudo bem, eu não estava sentindo nada, só queria que fossem logo, pois já estava há nove meses sedenta por ver o rostinho da minha filha! Uns 15 minutos depois, a médica aperta minha barriga com uma força tão grande que pensei: "Pronto, esmagaram a pobre Isabella", logo em seguida vejo um bebê quietinho, pendurado de cabeça pra baixo, levar um tapa no bumbum para chorar. Ao contrário daquela emoção toda das novelas, levaram minha filha para uma mesinha ao lado para limpar e fazer todos os procedimentos necessáreos a um recém-nascido. Uns 5 minutos depois, levam minha filha até o meu lado, me dizem "olha ela aqui", e antes que eu arriscasse dar um beijo, levaram ela para o berçário. Além de tudo, a sala estava cheia de estagiários tirando fotos da minha barriga aberta com o celular. Definitivamente, as cesáreas que mostram na TV é pura mentira, na real, você se sente mais num açougue do que qualquer outra coisa. Chorei sim, como toda mãe que vê seu bebê pela primeira vez, mas confesso que esperava algo mais humano. A anestesia, que era à base de morfina, inibiu um pouco minhas emoções, sem contar a coceira no rosto que a morfina causa... o único gesto humano no meio daquelo tudo, foi o ajudante do anestesista (aquele mesmo que foi pago pra me segurar pelo pescoço) me soltar o braço para que eu pudesse coçar o rosto. Minha filha nasceu às 20:48hrs, e só terminaram de me fechar às 21:50hrs, quando fui levada para a sala de recuperação. Lá, eu não conseguia nem sequer falar (efeito da anestesia), nem sentia nada do pescoço pra baixo, apesar de dopada, estava louca de vontade de ver minha filhinha, mas a enfermeira com naipe de funkeira desbocada falou: "ih, fica quietinha aí que você só vai para o quarto quando conseguir dobrar as pernas e levantar a bunda", no estado em que eu me encontrava, aquilo estava fora de cogitação, só consegui essa façanha às 23:50hrs, quando fui levada ao quarto e, finalmente, tive a minha filha nos meus braços. Por essa sensação, valeu tudo o que eu passei. É algo inexplicável... deixa eu parar por aqui, porque a sensação que senti ao ter minha filha nos meus braços pela primeira vez, nem todas as palavras do mundo são capazes de descrever!

4 comentaram aqui...:

Anônimo disse...

Ufaaa!! Q situação abiga! Entre risos e sustos, pude ter uma pequena ideia do q seja ter um filho...enquanto eu lia, parecia q eu estava passando por isso. E pensar q aquela coisinha pequenininha vestida de rosa q eu fui visitar no seu segundo dia de vida te deu todo esse trabalho...hehe...Ela é linda!!
Adorei mais esse post!! Beijocasssss :*

Beatriz Maia disse...

Brininhaa,
To chocada!! Acho que não tinha nem idéia do que é ter um filho!!! rssss..
Mas tudo valeu a pena vendo o rostinho da sua bonequinha neh!!!
Bjnhs

Adriana disse...

Nossaaaaa,passei mto mal lendo td isso!
Tenho pavor de hospital,agulhas,sondas,etc!
E tb de enfermeiras fdp´s q adoram tirar uma da cara das pacientes!
Aind abem q já passou e valeu a pena =)
Vou te linkar!
Beijãoooooooo!!!

Unknown disse...

Brynex,(reporter)...rsrsrs

Achei muito lindo tudo isso que vc escreveu, em lembrar que tempos atrás vc nos contou sobre a sua gravidez no Lelo na nossa hora de almoço vc estava desesperada.É lindo ler que aquela menina insegura se tornou uma grande mulher e dedicada....eu ainda não sou mãe mas sei um pouco o que é isso, pq mudei um pouco a minha vida depois que ganhei 3 sobrinhas e com certeza os seus irmãos também sabem o que é isso...bjus!!!