Sobre a cesárea

quinta-feira, 28 de junho de 2007

Estava eu aqui lendo os comentários, e acho que vale ressaltar que não estou incentivando fobia à cesárea nem querendo aterrorizar as futuras mamães, até porque, cada uma tem uma forma diferente de se recuperar da cesárea, algumas dizem que tiveram uma recuperação rápida e pouco dolorida, enquanto a maioria (incluindo eu), tiveram uma recuperação lenta (que dura semanas e até meses) e dolorida. Há também o fator emocional, a reação da mulher à uma cesárea vai desde a aceitação até a decepção. No meu caso, passei a gravidez inteira anulando a possibilidade de uma cesárea e em momento algum me imaginei na mesa de cirurgia, coisa que NÃO RECOMENDO! Muito embora toda mulher deva se preparar para ter um parto normal, nunca deve-se descartar a possibilidade de fazer uma cesariana (se esta for necessária). Como já relatei anteriormente, antes do parto, entrei em desespero e me senti profundamente decepcionada. Como a maioria das pessoas que visitam aqui ainda não teve filho, vale a pena tomar conhecimento a respeito dos tipos de parto para, no futuro, não ser ludibriada por uma GO “cesarista”. A cesárea é uma cirurgia de grande porte, onde corta-se 7 camadas da barriga até chegar ao útero e que trás riscos de infecção na mãe e de problemas respiratórios no bebê. Segue aqui alguns riscos que a cesárea tem:

  • grandes sangramentos podem ocorrer quando o útero fica muito mole, ou seja, não contrai normalmente
  • o útero pode rasgar quando o bebê sai, aumentando o corte e necessitando de mais pontos para ser reparado
  • agressões aos órgãos urinários e intestinais
  • complicações relacionadas com a anestesia, tais como parada respiratória, parada cardíaca, queda da pressão e dor de cabeça muito forte (entre outros)
  • infecções, havendo a necessidade de uso de antibióticos. Algumas vezes a infecção pode aumentar havendo a necessidade de internação e novas operações. Existem casos em que as infecções deixam seqüelas e podem levar à morte.
  • formação de coágulos que impedem o sangue de circular, provocando a trombose, que por sua vez podem provocar desde edemas até a morte
  • abertura espontânea do corte do útero ou rompimento do útero na gestação seguinte, é rara mas pode acontecer.
  • na gravidez seguinte a placenta pode grudar no útero mais profundamente, principalmente em mulheres que sofreram muitas cesáreas. Esta é uma situação grave que pode levar a perda do útero, grandes sangramentos e risco de óbito para a mulher.
  • na gestação seguinte, a mulher que sofreu uma cesárea já é considerada uma paciente de alto risco obstétrico, já que pode ocorrer qualquer uma das complicações acima citadas.

Vale ressaltar também, que na OMS, recomenda-se um índice de 15% de cesáreas. Porém, infelizmente, aqui no Brasil, a cesárea chega à alarmente faixa que varia entre 80 e 90%(exceto na rede pública). O motivo? Comodismo, falta de preparo e até mesmo medo do GO, opção da gestante, por ene fatores(na sua grande maioria, absurdos! Tais como: medo da vagina não voltar para o lugar, medo da dor(vale lembrar que no parto normal, você sente dor SIM, mas na hora. Já a cesariana, é indolor na hora, devido à anestesia, porém, a recuperação é dolorida e lenta)). Para quem nunca teve a oportunidade de ver tanto um parto normal, quanto um cesáreo, vão aí alguns links:


Cesárea:
http://www.youtube.com/watch?v=ySPNswzcHW8
(quem não tiver cadastro no YouTube, pode usar o meu: brynasouza/bellinha).

Parto Normal:
http://www.youtube.com/watch?v=DHPODttECZU

Fonte: site Amigas do Parto.

Na próxima continuo minha "epopéia"! ;-)

Nasce um bebê, e também uma mãe!

terça-feira, 26 de junho de 2007

Quando nasce um bebê, nasce também uma mãe. Eu que desconhecia tudo a respeito de cuidados com bebês, provei a sensação de ter recebido um dom divino, eu tinha nascido novamente, na forma de mãe, com habilidades que na minha outra vida, jamais teria! Trocar fraldas, trocar roupinhas, pegar no colo segurando o pescocinho molinho... tudo isso que me era estranho, mas agora, nessa vida, era algo corriqueiro! Ser mãe é algo inexplicável, que transcende o entendimento humano. É ver a natureza agindo a seu favor, para cuidar da sua cria. Assim que cheguei no quarto, a enfermeira me ensinou a amamentar, nem precisava, eu e a Isabella já estávamos em perfeita sintonia! Minha família toda estava ali, quase explodindo de tanta alegria, me contando os detalhes, me mostrando as fotos... e eu, pobre de mim, não podia nem sequer falar(falar dá gases nessa situação). A madrugada chegou e o efeito da anestesia foi passando e, com isso, vinha a dor insuportável que eu tanto temia. Definitivamente, a cesárea é uma aberração! O primeiro desafio do dia foi levantar da cama, todo e qualquer movimento que eu fazia, me causava uma dor enorme: andar, sentar, levantar, deitar... Enfim, a única coisa que eu poderia fazer que me isentava de qualquer dor, era respirar! Eu andava corcunda e em passos de formiga, minha barriga foi colada, não levei pontos, o que me causava a sensação de que se eu me esticasse, minha barriga iria se abrir. Pela primeira vez na vida, me senti uma inválida, não conseguia fazer absolutamente nada sem o auxílio da minha mãe ou da enfermeira, nem banho eu conseguia tomar sozinha, era algo que chegava a ser constrangedor. Falando em constrangedor, vale ressaltar o detalhe do absorvente pós-parto, que mais parecia um fraldão geriátrico, tinha que usar aquilo devido à hemorragia.
Quando me olhei no espelho, por um segundo, me perguntei quem era, o que era aquilo? Foi um choque enorme descobrir que aquela criatura com cara de Trakinas era eu, estava super inchada, da cabeça aos pés, literalmente! Chega a hora do almoço, mais um suplício no meu difícil dia: comer a gororoba do hospital, urgh!
Mas no meio de tantas dores e dificuldades, eu olhava para aquele pacotinho cor de rosa que estava numa caixa de acrílico ao lado da minha cama, e reconhecia que tudo aquilo valia muito a pena. Olhar para aquele bebê lindo (não, ela não nasceu com cara de joelho) era a coisa mais compensadora do mundo! Fui aprendendo o bê-a-bá da maternidade com a minha mãe, que foi uma mãe, no sentido pleno da palavra. Me acompanhou nas 3 noites em claro que passei no hospital, me ajudou em tudo! Sem ela eu não conseguiria segurar a onda, a Isabella resolveu trocar o dia pela noite, simplesmente chovara até o Sol raiar. Era uma situação complicada... quando ela dormia, eu a colocava no mini-berço e levava uns 5 minutos para me deitar na cama, de uma forma que me causasse menos dor. Era só eu deitar que a Isabella abria o berreiro, minha mãe corria para socorrê-la, enquanto eu passava longos minutos para conseguir me levantar da cama. Essa situação acontecia repetidas vezes ao longo da madrugada, e o motivo? A pobre Isabella não sabia sugar o leite direito, estava faminta! De repente, estava lá, eu e minha filha, eu aprendendo a amamentar, e ela aprendendo a sugar.
E assim passaram-se 3 dias no hospital, entre visitas e presentes, eu me olhava e via cair por água a baixo os meus planos de voltar a usar minhas roupas de antes da gravidez. Mais uma vez, ao contrário do que se vê nas novelas, eu não saí linda, magra e pronta pra outra do hospital! Minha barriga ainda estava inchada, parecia que ainda estava com uns 4 meses de gravidez, estava toda inchada, meu rosto estava desfigurado, passava dos 80kg, era desesperador!
Enfim, chegou o dia da alta médica, mas antes, tive que ir para a difícil tarefa de levar a Isabella para fazer o teste do pézinho. Enfia-se uma agulha grossa no calcanhar do bebê e espreme com bastante força, enquanto isso, eu tinha que segurar a Isabella, que se contorcia e chorava de tanta dor. Na verdade, eu não sabia em quem doía mais, em mim ou nela. Eu daria tudo pra poupar minha filha daquela dor, pela primeira vez na vida, me vi numa situação em que eu me dispunha a sentir dor no lugar de outra pessoa, o nome disso? Instinto materno!
Depois chegou a hora de ir embora, confesso que me deu um aperto no coração sair dalí, deixar para trás o lugar onde eu tinha vivido o melhor momento da minha vida, já tinha feito até amizade com as enfermeiras. Tirei várias fotos do quarto para guardar de lembrança daqueles três doces e doloridos dias.

PS.: Na foto, a Isabella assim que chegou do berçário!

Minha "necesárea"

terça-feira, 19 de junho de 2007

Tava pensando aqui com meus botões... esse deve ser o enézimo blog que crio, mas em todos os anteriores, eu relatava com textos recheados de palavrões e gírias, o quanto eu tinha enchido a cara e me divertido no fim de semana, dentre outros assuntos tipicamente adolescentes... Aí de repente, eu paro pra pensar mais ainda, e percebo, pela primeira vez, que amadureci 10 anos em 9 meses, que tudo aquilo só faz parte de um passado bem distante que eu me pergunto se vou ter coragem de contar pra minha filha, para não abrir precedentes(risos). Quem me conheceu há pelo menos 4 anos atrás, sabe bem do que estou falando, me preocupava em sair e me divertir, em pintar o cabelo de roxo, em ouvir Ramones, em ter um visual agressivo, em ver o mundo girando, porque isso era tão divertido.... Bom, estou no dia 23 de Outubro de 2006, nada disso que citei acima faz mais parte da minha vida, aliás, falando em vida, nesse dia, acordei sem fazer a menor idéia de que esse seria o melhor e mais importante dia de 22 anos de existência! Eu já estava desencanada, não sentia nenhuma dor, a GO me dizia repetidas vezes que eu não tinha nenhum milímetro de dilatação.... eu já havia me conformado que a Isabella seria o primeiro bebê a nascer de 12 meses! Como já tinha passado da DPP, tinha um ultrassom marcado para depois do almoço para saber a quantas andava a minha bebê que tinha preguiça de nascer. Pela oitava e derradeira vez, lá estava eu, esperando para fazer mais um ultrassom. Já tinha me familiarizado com as imagens que já não eram mais abstratas para mim, já conseguia destinguir pé de cabeça! Tudo ia muito bem, até que a radiologista me diz, com a maior cara de paisagem: "Você vai ter que fazer uma cesárea ainda hoje, o seu líquido amniótico está acabando", hã? Fui correndo para minha GO, furei fila, entrei logo na sala dela, louca de vontade de ouvir que eu poderia sim esperar por um parto normal - desde pequena, tenho HORROR a parto cesáreo, ouvia histórias terríveis a respeito das dores da recuperação, e não era nada animador pensar que 7 camadas da minha pobre barriguinha iriam ser cortadas! Assim que abriu o ultrassom, minha GO disse: "O nível de líquido amniótico está muito baixo, sua bebê pode ficar sem oxigênio, temos que fazer uma cesárea ainda hoje!", antes que eu esboçasse alguma reação, ela complementou: "Vou desmarcar minha última cliente, se interne na Santa Casa às 17 horas que às 19 estarei lá para fazer a cirurgia!". A única coisa que consegui falar foi: "Não pode ser amanhã?", na esperança da bolsa romper de madrugada, e ter um parto normal. A resposta foi: "Não, não podemos esperar até amanhã, até lá ela pode morrer sem oxigênio!". Saí do consultório desolada, arrasada e triste, pois tinha me preparado 9 meses para ter um parto normal, a idéia de fazer uma cesárea era inconcebível, era como se o ciclo da gravidez não tivesse terminado da forma correta, odiava a idéia de que minha filha seria arrancada de mim, ao invés de sair por livre e espontânea vontade, odiava a idéia de ter minha barriga cortada... cheguei em casa e me debulhei em lágrimas, chorei como poucas vezes, não acreditava que teria que me submeter àquela cirurgia horrível! O clima na família era de festa, exceto para mim. Assim como dizem sobre as drogas "o próprio nome já diz", vale o mesmo para o parto normal, o nome diz por si só, que é a forma normal de vir ao mundo, a cesárea era uma aberração que infelizmente é praticada descessáriamente pelos médicos do Brasil, por puro comodismo. Que médico quer ficar esperando horas, ou até dias, a sua paciente se contorcer de dores até o momento em que atinge 10 cm de dilatação para fazer o parto? Que médico vai ser xiita de parto normal, se paga-se melhor para fazer uma cesárea? Não quero generalizar, ainda têm médicos sensatos por aí, mas devo confessar que minha GO tentou me induziar a fazer uma cesárea durante os 9 meses, argumentava que ela não fazia parto normal por ene motivos, mas eu sempre relutei, e não mudei de GO porque ela me acompanhava desde que tinha 12 anos, me sentia mais segura com ela! Entrei no MSN para avisar aos meus amigos que a Isabella iria nascer, chorei mais um pouco, fui tomar banho, me arrumar, arrumar as malas, chorar, me lamentar e, enfim, ir para o hospital. A essa altura, tinha que me conformar com a cesárea, até porque soava um tanto quanto egoísta querer esperar um PN, sendo que minha filha corria risco de morte. Então encarei os fatos, e cheguei ao hospital... lá descobri que aquelas cesáreas que aparecem nas novelas, são pura ficção, na vida real, o negócio é frio e automático. Cheguei na sala de pré-parto, aquela mesma onde as mulheres se contorcem de dor para atingir os 10cm de dilatação, do meu lado, tinha uma menina, jovem, deveria ter a minha idade, que estava se contorcendo de dor desde as 10 da manhã (a essa altura, já passava das 6 da tarde), eu me sentia dividida entre me sentir aliviada de não estar morrendo de dor, ou de sentir inveja daquela dor que eu sequer tinha sentido. Depois chegou outra mulher, mais velha, com ar tranquilo, falando que havia marcado uma cesárea, pois tinha horror a parto normal (é, tem louca pra tudo!). Tudo ia muito bem, muito tranquilo, até entrar uma enfermeira "porra louca" na sala, ela olhou para a menina que se contorcia de dor, e dizia "Tá achando ruim, então porque fez? Quer parto normal? Agora aguenta!", mais uma vez, mais outra pessoa levantando a bandeira da cesárea! De repente, a maluca vem em minha direção, pergunta se eu tinha me depilado, e por um segundo pensei em responder: "Você acha que consigo enxergar alguma coisa com essa barriga gigante?", mas me contive em responder apenas "não". Com um ar de "ai que saco", ela levantou minha camisola, olhou a situação, se virou, foi não sei onde, e voltou com uma gilete enorme da mão, levantou minha camisola e... calma, ainda vem coisa pior pela frente! Logo depois, vem a maluca, falando alto e cantando, com uma sonda na mão e, sem hesitar, mandou eu abrir as pernas e disse que ia colocar a sonda. Apenas imaginem a dor que foi sentir uma mangueirinha de borracha, entrando no canal urinário! Bom, quando eu pensei que já tinha passado por tudo alí, me vem a louca falando em lavagem intestinal... vou parar por aqui, pois todo mundo sabe como que é que se faz isso! Depois de tanto constrangimento, entra minha mãe e meu namorado na sala, com um ar de felicidade, batendo fotos e esperando que eu estivesse com a cara mais feliz do mundo. Pior que isso, só escutar meu namorado dizer: "Que bom que vai ser uma cesárea!", é muito bom ser homem... só falou isso porque jamais na vida iria passar pelo o que eu estava passando! Eram quase 8 da noite quando chegou minha GO, com a pressa que já era de praxe, me passou pra uma maca, colocou aquela roupa de médico que vai para uma cirurgia, e me empurrou corredor a dentro, rumo à sala de cirurgia. Bom, a sala de cirurgia não era nada daquela coisa bem equipada, bem iluminada e bonita que aparece na TV (e olha que meu parto estava sendo particular). Deito na mesa, jogam aquele lençol bem em frente ao meu rosto e vem a enfermeira, com cara de boa menina, com uma seringa na mão, me dizendo que não iria doer nada, e enfiou uma maguerinha dentro da veia da minha mão esquerda, poucas vezes na vida tinha sentido uma dor daquelas! Depois vem outra enfermeira, com dois pedaços de madeira e cordas, coloca um pedaço de madeira embaixo de cada braço meu e me amarra, parecia que eu estava na cruz! O anestesista chegou e, a primeira coisa que perguntei foi se a anestesia doía mais que aquela mangueirinha que tinham enfiado na minha mão, quando ele disse que não, respireia aliviada! Logo ele me mandou sentar para aplicar a raqui, outro rapaz foi incumbido da difícil tarefa de me segurar pelo pescoço para que eu não me mexesse. A essa altura, antes de sentir uma agulha entrar na minha espinha, tive que escutar o anestesista falar: "Você gosta de Ramones?", a vontade que eu tinha era de dizer "Não, odeio... tenho o hábito de tatuar nomes de bandas que eu detesto", mas me contive no "Sim, gosto!". A anestesia nem doeu muito, deitei e logo não sentia mais nada do pescoço pra baixo. Na verdade, me sentia deitada na mesa de um açougue, era um tal de me mexer pra lá e pra cá, de pegar ferramentas... tudo bem, eu não estava sentindo nada, só queria que fossem logo, pois já estava há nove meses sedenta por ver o rostinho da minha filha! Uns 15 minutos depois, a médica aperta minha barriga com uma força tão grande que pensei: "Pronto, esmagaram a pobre Isabella", logo em seguida vejo um bebê quietinho, pendurado de cabeça pra baixo, levar um tapa no bumbum para chorar. Ao contrário daquela emoção toda das novelas, levaram minha filha para uma mesinha ao lado para limpar e fazer todos os procedimentos necessáreos a um recém-nascido. Uns 5 minutos depois, levam minha filha até o meu lado, me dizem "olha ela aqui", e antes que eu arriscasse dar um beijo, levaram ela para o berçário. Além de tudo, a sala estava cheia de estagiários tirando fotos da minha barriga aberta com o celular. Definitivamente, as cesáreas que mostram na TV é pura mentira, na real, você se sente mais num açougue do que qualquer outra coisa. Chorei sim, como toda mãe que vê seu bebê pela primeira vez, mas confesso que esperava algo mais humano. A anestesia, que era à base de morfina, inibiu um pouco minhas emoções, sem contar a coceira no rosto que a morfina causa... o único gesto humano no meio daquelo tudo, foi o ajudante do anestesista (aquele mesmo que foi pago pra me segurar pelo pescoço) me soltar o braço para que eu pudesse coçar o rosto. Minha filha nasceu às 20:48hrs, e só terminaram de me fechar às 21:50hrs, quando fui levada para a sala de recuperação. Lá, eu não conseguia nem sequer falar (efeito da anestesia), nem sentia nada do pescoço pra baixo, apesar de dopada, estava louca de vontade de ver minha filhinha, mas a enfermeira com naipe de funkeira desbocada falou: "ih, fica quietinha aí que você só vai para o quarto quando conseguir dobrar as pernas e levantar a bunda", no estado em que eu me encontrava, aquilo estava fora de cogitação, só consegui essa façanha às 23:50hrs, quando fui levada ao quarto e, finalmente, tive a minha filha nos meus braços. Por essa sensação, valeu tudo o que eu passei. É algo inexplicável... deixa eu parar por aqui, porque a sensação que senti ao ter minha filha nos meus braços pela primeira vez, nem todas as palavras do mundo são capazes de descrever!

Um turbilhão de sentimentos...

segunda-feira, 11 de junho de 2007

Parece que basta ler o resultado do exame pra explodir uma bomba de hormônios dentro de você, fato que me fez acreditar por alguns segundos que minha gravidez era psicológica! Aí você percebe que nostalgia é uma palavra que se faz cada vez mais presente no seu vocabulário, de repente você começa a sentir uma falta inexplicável de tudo aquilo que você nunca mais vai ter de volta, e as lágrimas são inevitáveis... não havia uma pessoa sequer que eu tenha contado que estava grávida sem me debulhar em lágrimas depois, nem que fosse escondida no banheiro (sim, eu me faço de durona, DETESTO chorar na frente de qualquer pessoa que seja).
É um turbilhão de sentimentos, é a vida virando de pernas pro ar, é você começando a comer feito uma loba, é a primeira consulta do pré-natal, são as primeiras roupinhas... enfim, é tudo aquilo que você não programava pra acontecer nem tão cedo na sua vida!
Contar para a família foi o primeiro obstáculo vencido, afinal de contas, eu já tinha 22 anos, já estava formada, trabalhando e com estrutura física(não tenho mais 15 anos!) e financeira pra bancar uma criança, mas a tal da estrutura psicológica era o que me faltava!
E não deixa de ser uma fase de aprendizado, aprendi que desejo de grávida é tudo balela, não passa de desculpa pra se entopir de porcaria - pelo menos no meu caso, não tive desejo nenhum, exceto por pedrinhas de gelo(!).
Começei a ser uma leitora assídua de sites de bebê(http://www.linkdobebe.com.br), daqueles que mostram o desenvolvimento semana a semana e me maravilhava quando lia "nessa semana, os dedinhos estão se formando", devorava livros e revistas a esse respeito...
E vem o primeiro ultrassom, a primeira emoção, a primeira vez que você tem a noção da magnitude do que está acontecendo e a prova irrefutável da existência de Deus... ter outro ser humano se desenvolvendo a todo vapor dentro do seu ventre é algo humanamente inexplicável, coisa de Deus mesmo! Ainda não tinha digerido bem a idéia de ser mãe, ainda chorava todas as noites antes de dormir e ainda era consolada pela minha ainda mãe, digo AINDA mãe, porque uma das coisas mais assustadoras é perceber que você vai deixar de ser filha pra ser mãe, que sua mãe vai deixar de ser sua mãe pra ser a vovó coruja da sua filha.
Os meses vão passando, e com eles vem a ansiedade de saber o sexo, menino ou menina??? Eis a questão e o motivo de uma eterna discordância entre eu e meu namorado. Ele queria Julia, eu queria Amanda, ele odiava Amanda, e eu detestava Julia... todos os nomes que ele gostava não eram do meu agrado, e vice versa, até que um dia, falando todos os nomes que vinham à cabeça, de A a Z, paramos no Isabella e de repente olhamos um pro outro e falamos ao mesmo tempo "gosto desse nome!", pronto, nome escolhido, uma coisa a menos! Agora bastava descobrir se era menina mesmo!
Nunca vou me esquecer do dia dos namorados de 2006, não pelo fato de não ter ganhado nada, mas sim por ter feito o ultrassom morfológico e de repende, no meio daquele monte de imagens abstratas, ouvir a médica dizer "olha a xoxota aqui, é uma menina". Nossa, foi uma emoção inexplicável, parecia que tinha ganhado na mega-sena, já começei a pensar nos vestidinhos, lacinhos, sapatinhos, bonequinhas e em todos os frufrus que iria comprar.... acho que aí sim, começei a aceitar a idéia de ser mãe, começei a comprar as coisinhas do enxoval, que DELÍCIA que é comprar o enxoval, certamente, uma das melhores coisas da gravidez! Mas os tais hormônios da gravidez não me deixavam em paz, a toda hora achava um motivo para chorar, o mais forte deles, era o fato de não ter meu namorado o tempo todo ao meu lado pra acompanhar a gravidez, era pensar que não iríamos criar a Isabella juntos e, como se não bastasse, tinha que segurar a barra da depressão dele!
Quando me dei por mim, já estava no meio da gravidez, me sentia um ser mutante, já não era mais nem sombra do que era há pouquíssimos meses atrás: cabelos desbotados, roupas perdidas, nada de sair à noite e muitos, muitos quilinhos a mais! Logo eu, que era uma anoréxica em potencial, tive que aceitar a idéia de que engordar pelo menos 10kg era inevitável. Também não deixei por menos, engordei vergonhosos 23kg!
Antes de me chamar de draga ou de baleia, leve em consideração que o apetite durante a gravidez é algo avassalador, sentia meu estômago roncar a cada meia hora, parecia que tinha um buraco nele, a comida simplesmente não parava lá!
O último trismestre é terrível, carregava comigo a ansiedade, o cansaço, a falta de ar e os 23kg a mais. A Isabella me chutava cada vez mais forte, chegava a imaginar que mesmo sem me conhecer, ela já não gostava de mim. Depois de 37 longas semanas, sentia que a Isabella podia sair a qualquer momento, parei de trabalhar e ficava em casa o dia todo sem fazer nada, a não ser se entopir de comida e esperar chegar o momento de morrer de dor, era desanimador... meu único (e delicioso) passatempo, era comprar o faltava do enxoval, dividia essa tarefa com a minha mãe, que a realizava com uma empolgação que dava gosto!
Já não tinha mais posição pra dormir, então dormia sentada, chorando de dor nas costas, de cãimbras nas pernas... chorando porque estava parecendo um elefante, chorando porque tinha a impressão de que estava tendo uma gravidez de elefante(demora 2 anos), o tempo simplesmente não passava e a cada instante se tornava mais insuportável ouvir falarem "Nossa, ainda não nasceu???", "Quando que vai nascer?".
A DPP(data prevista do parto) passou e nada... e o que aconteceu depois, é história pra ser contada outro dia! ;-)

A delícia e a dor de ser mãe

terça-feira, 5 de junho de 2007

Bom, antes de mais nada, esta que vos escreve é a mãe da Isabella! Sim, ser mãe também é perder a identidade, é perder a atenção dos outros que passam batido por você e correm pra ver "como ela cresceu, como está linda", é renunciar a si mesma e pensar única e exclusivamente se a marca da fralda é boa, se o tubo de Hipoglós está acabando, se aquele sapatinho lindo ainda serve, se ela está se alimentando direito, se estou sendo uma mãe presente, se estou educando da forma correta, se está frio pra ela usar aquele vestidinho lindo... ufa... mas ainda tem mais: é deixar, de uma forma natural e involuntária, de pensar em você mesma, de deixar de comprar por impulso e pensar dia e noite naquela calça jeans maravilhosa que você só vai sossegar quando gastar uma grana comprando ela. Ser mãe também é abrir o guarda roupas e ver que faz muitos meses que você não compra uma peça de roupa, é se olhar no espelho e ver o quanto você está baranga e deixou de se cuidar pra desempenhar de forma impecável (como se isso fosse possível) o papel de mãe! É parar pra olhar as fotografias do tempo da faculdade (claro que você só vai fazer isso enquanto a princesinha estiver nanando) e lembrar que faz mais de um ano que você não toma uma cervejinha, não vai pro barzinho pra jogar conversa fora até altas horas da madrugada... também é olhar as fotos da época do namoro e perceber que todo conto de fadas um dia vira realidade, pois faz meses que vocês não saem mais juntos nem pra pegar um cineminha, que você não se arruma mais pra ele, que as conversas de vocês agora giram em torno das contas a pagar e de quando a pequena vai na pediatra.
Eu poderia citar aqui milhares de mudanças (e que mudanças) que a maternidade carrega consigo, inclusive porque não sou nem mais sombra do que era antes de 28 de Janeiro de 2006 (sim, quando a Isabella foi, por "acidente", encomendada). Sou outra mulher, deixei de ser menina, de sair pra balada, de comprar roupas e futilidades pra mim, de pensar em mim, de pedir tudo pra minha mãe...
Ainda lembro como se fosse hoje, a sensação que tive ao ler o resultado do Beta HGC, aquele 22 de Fevereiro de 2006, que dia! Senti como se o chão tivesse se abrido e eu estivesse caindo num abismo sem fim, a primeira reação foi pensar em tudo o que eu perderia para sempre (minha liberdade, minhas baladas.... e, o mais assustador de tudo, o meu namorado seria o pai da minha filha e um marido em potencial... seria esse o fim do nosso relacionamento?), até hoje ainda não consegui traduzir em palavras tudo o que senti, mas, se quiser ter uma idéia, é como provar a sensação de morrer e nascer de novo!
Minutos antes, eu era uma menina que estava na porta do hospital, esperando o namorado, chorosa e nervosa porque o teste de farmácia tinha dado positivo, então nós dois (duas crianças), fomos afogar as mágoas no McDonalds e, entre uma batata frita e outra, tentávamos confortar um ao outro falando "Não, aquele teste de farmácia deve ser uma porcaria, deve ter dado errado...". Depois de 2 longas horas de espera, sai o resultado do Beta HCG, o médico me chama de "Dona Brina", pronto, era o que bastava pra aceitar de uma vez por todas que o teste de farmácia estava certo... depois de constatar as nossas caras de desespero, ele disse "De qualquer forma, parabéns!" e entregou o papel com um POSITIVO escrito!
Desse momento em diante, deixei pra trás TUDO o que eu era desde 3 de Dezembro de 1983... não, eu não chorei, agi como mulher, e não mais como menina, admiti que minha vida jamais seria a mesma, que dali há 8 meses seria mãe e que nada, jamais, seria do mesmo jeito! Nunca me senti tão sozinha na minha vida... começei a imaginar que todo mundo nos rejeitaria e nos condenaria por tamanha irresponsabilidade, que meus amigos me abadonariam, que minha mãe me expulsaria de casa, que meu namorado ia me dar um pé na bunda.... mas nessa hora, meu namorado pensou alto "Que conselhos será que vou dar para o meu filho?". Sei lá... eu nem sabia mais o que pensar, além do medo de contar para a família.
Bom, chega de escrever, chega de misturar tudo, de começar escrevendo sobre hoje e terminar escrevendo sobre ontem... os 8 meses seguintes ficam pra outro dia!
Mas antes de dizer tchau, se alguém achou que o início do texto soou um pouco egoísta, não se engane... ser mãe é uma DELÍCIA, e também uma dor! Antes que alguém se questione, se pudesse fazer que nem em Efeito Borboleta, JAMAIS mudaria o curso da minha vida, teria a Isabella SIM! Amo ser mãe, amo ter perdido todas aquelas coisas tolas e amo, acima de tudo, a Isabella, que é LINDA!