A dor de ser mãe.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Para as desavisadas, vou contar um segredo: nós, mães, fazemos parte de uma sociedade secreta, onde não se pode sob hipótese alguma, nem sob tortura, revelar o lado trash da maternidade. Para não levar a raça humana à extinção, nós temos um trato de só contar o lado cor-de-rosa da maternidade.
Antes de ser mãe, eu me comovia com crimes bárbaros, mas hoje, divido a dor, e não tem como fugir, está implícido desde o feliz dia em que parimos! Dividir a dor também faz parte do pacto que fazemos entre os membros da sociedade, e a indignação também.
De um lado, uma Ana Carolina que chora a morte de sua filha, de outro, uma Anna Carolina que derrama lágrimas de crocodilo em rede nacional numa tentativa frustrada e ridícula de ocultar o óbvio. Uma nos dá uma vontade enorme de abraçar e dizer palavras de conforto, a outra, nos dá vontade de fazer justiça com as próprias mãos e nos leva a cair numa velha questão: porque seres assim, são mães?
Será que podemos mesmo chamar de mãe mulheres que estrangulam crianças, que jogam bebês nos rios, no lixo, que ferem fisica e verbalmente? Outrossim, existem os membros da nossa sociedade secreta, seres dignos do título de mãe, que têm atitudes nobres, que pensam em suas crias acima de tudo, que se tornam seres autruístas para com seus filhos, que são capazes de dar a vida por eles...
Hoje nos defrontamos com duas Anas Carolinas, uma mãe, e um monstro!
Hoje derrubamos lágrimas de tristeza e indignação por uma Isabella que foi cruelmente assassinada pelo próprio pai.
Hoje derrubamos lágrimas e nos sentimos angustiadas pelas outras centenas de Isabellas que são vítimas diárias da violência infantil. E assim, me permito indagar, assim como uma nação inteira: Até quando?
Hoje nós, mães, derrubamos lágrimas e dividimos um pouco da incomensurável dor de uma Ana Carolina, mãe.
Hoje e sempre nossa sociedade secreta está de luto por esse lado trash da maternidade.
Hoje nós sentimos nossa moral ferida por sermos obrigadas a dividir nosso tão nobre título de mãe com um ser de ímpeto assassino e que, depois de ter consumado seu intento, não demonstra nenhum vestígio de arrependimento. É revoltante que alguém assim tenha livre acesso à maternidade, e tantas outras aberrações humanas como ela. É revoltante ver que, no Brasil, assim como o Arnaldo Jabor falou ontem no Jornal Nacional, o crime seja rápido e a justiça seja lenta.
Hoje e sempre derrubaremos lágrimas por saber que existem muito mais pseudo-mães do que sonha sua vã filosofia, seres frios, calculista e capazes de atos com requinte de crueldade.
Hoje, como já é de praxe, termino com a imagem de uma Isabella com uma mãe apaixonada. Não a minha Isabella comigo, mas a Isabella que todas nós, mães ou mulheres dignas de ser, adotamos como filha e dividimos a dor de sua ausência.